domingo, 22 de maio de 2011

Caminho Mudo

Todo dia era a mesma coisa... Levantava-se e apressadamente se arrumava, ia para o trabalho, voltava para casa, dormia para acordar no dia seguinte e repetir os mesmos procedimentos. Arrependia-se dos erros do passado, mas estava disposta a começar uma nova vida. O tempo não parecia lhe ter deixado muitas marcas, se bem que ainda não passara dos trinta e cinco. Era sozinha no mundo, mas sua vida solitária estava com dias contados. Havia resolvido que iria se cuidar, sair e se divertir, dedicar menos tempo ao trabalho e mais tempo a ela mesma, que iria arranjar alguns amigos e quem sabe, um namorado.

Foi ao salão, pintou as unhas, arrumou os cabelos, aprendeu a se maquiar, tomou um banho de loja. Estava satisfeita com o resultado, atraia mais olhares do que nunca, aliás, nunca havia sido olhada por ninguém até então. Mas isso ainda não era o bastante. Começou a freqüentar um restaurante da alta sociedade próximo de sua casa. Lá conheceu muitas pessoas, mas nenhuma que conseguisse preencher o vazio dentro dela. Tentava de todo modo ser feliz, mas esse sentimento parecia tão distante, e por que não dizer, inexistente em seu mundo.

Um dia, escorada no balcão desse mesmo restaurante, pensava em tudo o que havia passado em sua vida, com a cabeça voltada para frente, mas o olhar distante. Seus olhos arregalados, naquele momento enxergavam o filme de sua vida. Até que foi surpreendida por uma sombra e como se despertasse de suas lembranças, olhou para frente e viu o belo rapaz que acabava de chegar ali e a olhava firmemente nos olhos. Ele perguntou seu nome, ela respondeu com voz não muito firme, ele então se apresentou. Sem perceber começaram a conversar, e notaram então que entre eles havia uma afinidade enorme. Resolveram se encontrar novamente, e assim foi, uma, duas, três, quatro vezes. Começaram a namorar. Ele era mais jovem, mas nada que atrapalhasse o relacionamento dos dois. Ela sentia-se cada dia melhor, não acreditava que havia passado tantos anos de sua vida sozinha, sem ter conhecimento da existência daquele ser que a fazia tão bem.

O tempo foi passando e chegaram à conclusão que deviam se casar. Ela escolheu o vestido mais bonito que podia, e no dia marcado lá estavam ela, o noivo e a família dele. Esse foi o segundo dia mais bonito de sua vida. O primeiro, foi o dia do nascimento de seu filho. Lembrava como se fosse hoje, ela ainda uma criança e engravidou. Os pais a expulsaram de casa, sem ter para aonde ir, nem o que fazer foi obrigada a dar seu filho para adoção. Tentava esquecer tudo isso, mas essas recordações insistiam em visitá-la as vezes.

Seu companheiro tinha um bom emprego, ganhava pelos dois e por mais alguém, então pediu que ela deixasse de trabalhar para que pudesse dedicar seu tempo a ela e aos dois. Compraram uma bela casa, afinal de contas podiam fazê-lo. Sentia-se cada dia mais e mais feliz e realizada, acreditava que as coisas não podiam ficar melhores. Mas estava enganada. Começou a sentir enjôos e logo descobriu que a causa era um bebê. Não conseguia se agüentar de tanta felicidade, ela e seu marido muito contentes começaram a comprar o enxoval, na cor amarela, afinal ainda não sabiam o sexo do bebê.

Um dia, enquanto passeava junto a seu amado pelos jardins sentiu-se mal e percebeu que havia tido um sangramento. Foram mais que depressa ao hospital. Todos os exames e procedimentos foram feitos, mas infelizmente a criança não pode ser salva e, mais do que isso, descobriram que se ela sobrevivesse à gestação nasceria com problemas. Não entenderam muito bem e resolveram procurar o médico para que ele esclarecesse tudo o que havia ocorrido. Ao chegar à sala do médico, este os olhou fixamente, e entendendo o que estavam passando explicou: “Infelizmente isso é comum quando os pais são primos próximos, e deduzo eu, devido a enorme semelhança física, que é isso que acontece entre vocês dois. Certo?”.

Confuso ele a olhou, ela estava pálida e pasma com o que acabara de ouvir. Já havia notado algumas semelhanças físicas entre ela e seu amado, mas achava que tudo isso era apenas uma coincidência. Foi ali, naquele exato momento que percebeu que seu grande amor, era na verdade o filho que havia dado para adoção uns 20 anos atrás. Seus pensamentos pareciam saltar em sua cabeça, acabara de perder seu marido e ganhara um filho. Era demais para ela, então ali ficou por um longo tempo parada sem entender o como ou o porque...

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