domingo, 21 de agosto de 2016

Por uma vida com mais paixões

Desde que me entendo por gente, lembro das pessoas tentando definir o que é paixão.  Lembro de uma vez que meu tio fez uma surpresa linda pra minha tia e colocou um cartaz enorme na parte de dentro da porta do quarto dela com essa palavra escrita de todo tamanho. Eu era criança, devia estar vivendo meus oito aninhos de vida e me recordo de ter ficado com a palavra na cabeça sem entender muito o significado dela.

Aí entrei na adolescência e as revistinhas típicas que lemos nessa fase da vida, me ensinaram que paixão é quase que um oposto -talvez complementar, meio paradoxo, eu sei- do amor. Me ensinaram que paixão é quase que exclusivamente ligado ao relacionamento casal. Que chega um dia em que você se apaixona por alguém e que, não muito tardiamente, a paixão acaba: se restar amor, ótimo, você está fazendo isso certo! Conclusão ingênua e, com perdão da palavra, um pouco burra também!

Depois cresci mais um tiquinho e me lembro de algum dia na faculdade, ouvir uma aula sensacional, do grande professor de semiótica, Júlio Pinto, sobre os crimes passionais. É, foi uma aula incrível, mas que me deixou ainda mais confusa sobre o significado de paixão.

Aí um dia, percebi que falar de paixão somente no que diz respeito a relacionamentos tira muito significado de algo que é tão grande. A gente se apaixona todos os dias, não somente por pessoas, mas por coisas, situações, lugares, bandas, trabalhos...

Paixão não é oposto de amor: paixão é, e ponto!

Pra você entender melhor, amor é o que você diz que um cachorro sente, paixão é o que ele sente!
Você pode amar alguém ou alguma coisa, por exemplo, mas não ser apaixonado. Mas aí, vai por mim: não tem muita graça!

Paixão é o tesão que te impulsiona. É o que faz a sua vida não cair naquela do  mais ou menos, do tamo aí, do empurrando com a barriga.

Viver de paixões é ter prazer em viver. É ter vontade, é saciar!

Paixões não são eternas, mas também não são necessariamente tão efêmeras como acusa a oposição.É claro que elas podem acabar, que elas podem mudar ou nunca acontecer, como tudo na vida.

Então caro leitor, quando uma paixão acontecer na sua vida,  seja ela em qual âmbito for, deixa acontecer! Vai sem medo, sem travas, se joga mesmo! Porque talvez a paixão seja a forma mais autêntica de amor!

domingo, 3 de julho de 2016

Quando voltamos a Ser Homens da Caverna

Já é muito vulgar falar de como a tecnologia e principalmente as redes nos tiram da ''realidade'' e nos tornam seres que vivem muito mais online do que offline. Sinceramente, esse parece um vício quase impossível de ser vencido. Poderia apostar agora mesmo que se você estiver acompanhado e olhar para os que estão à sua volta, eles estarão de alguma forma ''conectados''. Se estiver sozinho, olhe para sí mesmo, que está agora com o celular na mão e revesa seu tempo entre ler alguns dos meus parágrafos e as suas conversas no whats e likes no facebook.
Bom, talvez você conheça também o muito falado "mito da Caverna de Platão".
Se não, vamos lá...
No livro A República Platão recorre ao mito para dividr o mundo entre o sensível e o intelegível.
Basicamente fala de homens que viviam desde o nascimento presos por correntes no interior de uma caverna e viam apenas no fundo dessa caverna sombras projetadas da realidade do lado de fora (que podiam inclusive, ser manipuladas) e acreditavam que essa era a verdadeira realidade. Mais ou menos a mesma história do filme Matrix.
E o que isso tem a ver com as redes sociais?
O Mito fala sobre manipulação e alienação.
Já parou para pensar quanto tempo você perde da sua vida olhando para uma tela?
Quantas conversas ao vivo você perdeu em troca de uma conversa "teclada"?
Ou em quantas vezes você deixou de dar atenção para sua mãe, seus avós, namorados ou esposas porque estava curtindo fotos, stalkeando ou conversando com alguém que estudou com você em mil novecentos e bolinha ou algum outro alguém que caga e anda pra você?
Pior do que isso, já parou para pensar que você é o produto que o facebook vende? Você é o público da publicidade através da qual ele se mantém?
Agora, mais próximo do mito... quantas foram as vezes em que você acreditou no que estava diante da tela como se aquilo fosse, de fato, realidade?
Ou quantas vezes criou uma ''falsa realidade'' - a famosa espetacularização do cotidiano, para os comunidadores- para expor nas redes?
É meu amigo...
Uma péssima notícia para você, talvez não mais novidade porque provavelmente você leu o título desse texto, mas enfim: Estamos voltando a ser homens das cavernas. Não no sentido social, como nossos antepassados. Mas infelizmente - e talvez irreversivelmente - no sentido ideológico.
Estamos vivendo a vida pela metade para observar um simulacro. Estamos nos abandonando para assistir um espetáculo, ou para criá-lo.
O pior de toda essa história é que não vai adiantar você ler esse texto porque tão logo que eu escrever o ultimo ponto, você vai voltar para a caverna - ou talvez nem tenha saído.
Aliás, no próprio mito de Platão o único dos que consegue sair da caverna, retorna para contar tudo o que viu aos seus amigos e é morto, porque passa a ser considerado louco por apresentar uma realidade que parece utópica.
Quem sabe você mate, não uma nova ideia, mas a sua alienação?
Deixo um convite: Que tal sair da caverna?

terça-feira, 28 de junho de 2016

Por que é tão difícil ser fiel?

Tenho visto muitos relacionamentos terminarem e a maioria pelo mesmo motivo: infidelidade.

Quando falo infidelidade tenho certeza que a primeira coisa que vem à sua cabeça é uma traição "consumada", um beijo ou uma noite. Na verdade, quero tratatr aqui de outra forma de infidelidade, daquela que acontece quase que silenciosa no dia a dia. 

Em primeiro lugar, quando falamos de fidelidade dentro de relacionamentos, temos que lembrar que a partir do momento em que decidimos assumir um compromisso, devemos muito mais fidelidade à nós mesmo do que ao outro. Qualquer comportamento que fuja do esperado, é considerado - pelo menos por mim - deturpado, desvio de caráter mesmo!

Me lembro quando, na faculdade, lemos "O pequeno tratado das grandes virtudes" de Comte Spoinville. Segundo o autor, ser fiel é lembrar-se ou, em outras palavras, não esquecer. À princípio achei um tanto estranha essa definição, mas com o tempo fui percebendo que de fato, ser fiel é lembrar-se: do seu compromisso, do seu sentimento, do outro.

Ser fiel é comportar-se da mesma forma quando se está sozinho e quando se está com o outro. Vejo muitos casais que longe do seu parceiro se comportam de uma forma e perto, torna-sem outra pessoa. Fidelidade é algo que praticamos muito mais à distância e sozinhos do que na presença do outro. E, por esse mesmo motivo é muito mais uma questão de postura do que de qualquer outra coisa. Isso significa que não quer dizer que você não vá achar alguém atraente ou seja lá o que for, mas significa que independente de qualquer coisa que você sinta, nunca vai dar espaço à isso, nunca vai dar a um outro a possibilidade de pensar que você tenha interesses. Isso é ser fiel, isso é ser de verdade!

Quando alguém não é fiel a você, está dizendo através de suas atitudes  que não te conhece o suficientemente bem para te amar por completo. E se isso acontecer, não perca seu tempo tentanto provar para o outro que vale a pena te amar, porque amor não é custo/benefício. 
E então, por que é tão dificil ser fiel?

Na verdade, ser fiel é fácil, até demais! Quando você verdadeiramente tem sentimentos por alguém, é seguramente nula a possibilidade de se interessar por outros ou por deixar um outro cogitar, que seja, essa possibilidade. Quando você ama, naturalmente é fiel, naturalmente é verdadeiro. E é aí que chegamos ao ponto: Difícil mesmo é amar de verdade...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Lembranças de um passado que não é meu





Em meio a anotações financeiras da década de 40 sobre dias de trabalho na roça, capinas, café, milho, queijo, gado e dividas em mirreis, construção de ranchos e oração contra erva, traçados em caligrafia deslumbrante, descubro alguns pequenos, simples  - e ao mesmo tempo tão ricos – registros do cotidiano do meu grande bisavô Olívio Batista Ribeiro. 


Hoje, 23 de fevereiro de 41, às 03 da tarde.
Belíssimo tempo. Estou assentado na sala e Maria deitada sobre o assoalho. Ibrahim e Gabriel brincado com sacos de café e me amolando pª fazer carrinho. Isso é impossível com tanta preguiça. A inglesa deitada e o periquito a assobiar. Foge Gabriel enjoado!


Matta da Goiabeira, 24 de outubro de 1943
Belíssima tarde, Ibrahim, Maria e Odilon a brincar pelo curral, Hermenegilda doente de cama.
Tarde tão alegre para que pode, já para mim, tanta tristeza traz. Em um imenso curral, nenhuma viva alma pª me distrair, neste profundo bosque debaixo deste paredão.
Adeus capina, adeus mocidade, para nunca mais! Assim Deus o quis: é nascer, viver e morrer.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O que é "Para Sempre"




Temos -generalizando mesmo- a inevitável mania de sempre que pensamos em eternidade, associarmos à essa, a ideia de tempo futuro. Talvez por hábito, talvez por convenção, talvez por culpa dos contos de fada. Falar em tempos, pode parecer um pouco confuso, mas é essencial para quebrar ou, pelo menos, abalar as estruturas dessa associação.


Parece-me esquisito falar de eternidade relacionando-a a algo que ainda não é. Em outras palavras, o "Para Sempre" -para mim- não é o que há de vir, mas o que já foi. Não se pode fazer eterno o almoço com o chefe amanhã, a pelada no sábado, a viagem para o exterior o final do ano, ou o seu casamento, a menos que eles aconteçam. O "Para Sempre" não fala sobre, tampouco mede a duração das coisas. É feito do agora, é feito agora. É o que vira passado, é o que vira     lembrança. 


E a boa notícia é que nós somos os, senão únicos, principais responsáveis pela produção do agora. Então meu amigo, faça valer a pena o seu "Para Sempre" cotidiano. Porque para ser eterno, basta ter existido um dia.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Por uma vida com menos sonhos

Acho engraçado como é recorrente ver pessoas se referindo aos sonhos como algo extraordinário, e incentivando os outros a sonharem, ou a correr atrás de seus sonhos.
Não me refiro aqui ao sonho como atividade mental durante o sono, ou como o bolinho de padaria recheado com algum doce (desse eu corro atrás com prazer), mas sim a aqueles pensamentos e desejos de vida que, em alguns casos, se confundem com metas.

Nunca fui do tipo sonhadora, pra falar a verdade, acho que sou incapaz de sonhar (talvez seja por isso que pareço a mim mesma tão fria, enquanto redijo esse texto).
E por incrível que pareça, apesar de ser possuidora de uma criatividade extremamente aflorada, sempre tive os pés muito bem presos ao chão, e sempre preferi me orientar entre metas e ideais a sonhos. Sempre escolhi botar as mãos na massa, fazer eu mesma o caminho.
Sempre vi ‘sonho’ como um contrário de ‘vida’.
Talvez esteja errada, mas essa de ‘sonhos’ me dá a sensação de um espera, de estar ao vento aguardando uma espécie de milagre.

Nesse século, essa visão se agrava ainda mais, já que vivemos uma superficialidade e o sonhar torna-se indispensável à medida que tem uma relação muito tênue com o ‘possuir’. Creio que não seja necessário nesse momento aprofundar no conceito de como nossa sociedade está estruturada sobre capitalismo, consumo e efemeridade, mas, é sobre isso que o sonho hoje se assenta.
Sem consumo, não há sonho!
Uma prova disso?
Você mesmo! Qual é seu sonho? Possuir algo, ser bem sucedido, ganhar na loteria... Sem sombra de dúvida algum dos ‘itens’ citados está incluso no pacote, não é mesmo?

(PS:. Se você for um sonhador legítimo, o ultimo item está presente nos seus sonhos diariamente e detalhe: você nem joga!)
Mas voltando ao texto, sonhar na sociedade de consumo, também virou comércio!
Ninguém quer ser nada!
Ou melhor, todos querem ‘ser’ algo por meio de suas posses. É por isso que muitas pessoas, buscam uma vida inteira -ou se tiverem sorte, muitos anos dela – por algo que nunca acharão!


Hoje defendo, com muita convicção, que o que importa não são sonhos ou posses. O que importa é viver, não a espera do final de semana, ou do dia em que você vai comprar seu carro, sua casa ou seja lá o que for, mas sim, viver o dia de hoje, o minuto de agora. Faça planos, trace metas, não de compras (não que você não deva fazê-lo, só não os priorize) mas de ser alguém melhor em conhecimento, como ser humano, de ter experiências, vivencias, amigos. Porque para viver é preciso ter os pés no chão. E porque como disse Belchior e cantou a grande Elis: Viver é melhor que sonhar!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Arte moderna e contemporânea: Ce ne est pas une œuvre d'art



Desde a era moderna, percorrendo a pós moderna e a contemporânea, houve uma grande expansão do viés artístico, que pode ser observado principalmente nas galerias, através da invasão de obras que, diferente das de períodos anteriores, pareciam não querer criar correspondência com o ''mundo real''.
 
Essa abstração proposta na arte moderna, pós moderna e contemporânea suscitou porém uma espécie de aversão à ela própria, por parte de alguns espectadores. Essa aversão por sua vez, leva à uma certa dificuldade em aceitar essas obras como arte.
 
Antes de continuarmos essa discussão, é importante trabalharmos dois conceitos que irão alicerçar a argumentação: Arte e Estética.
 
Definir o termo ''arte'', pode tornar-se algo complexo a medida que muitos  já o tentaram fazer e o de fato fizeram das formas mais variadas. Entretanto, a maioria dos conceitos criados para o termo, passam por um lugar comum, a busca pela estética - utilizada aqui como sinônimo de beleza. E assim, dentro dessas definições, a arte é vista como apologia a beleza e inclui essa como critério indispensável e eliminatório.
 
Roger Scruton, filósofo inglês nascido em 1944, confirma esse pressuposto e afirma ainda que, a arte vinda após a era moderna, deixa a busca pela beleza - que segundo ele é inerente à própria vida humana - para tornar-se culto à feiura, tendo como objetivo principal a busca pela originalidade.
 
Acontece porém, que o padrão estético é uma concepção relativa, variando conforme tempos, culturas, sociedades e ainda, conforme cada individuo. Sendo assim, a beleza não só se manifesta de formas diversas, como também é percebida de formas diversas. E é justamente essa diversidade que permite uma despadronização, uma abstração que é própria da arte vinda do período moderno até os dias atuais.
 
Essa é a Arte de reconfiguração e de construção de novos significados e signos a partir da experiência tirada da relação entre artista, obra e espectador.
 
Scruton, faz uma forte crítica ao desprezo da razão nessa obras. Isso porque ele afirma que estas parecem não ''querer fazer sentido''. Porem, se atentarmos para essa questão em especial, iremos perceber que muitas vezes obras de outros períodos, fazem sentido para determinado grupo, mas não o fazem para outro.
 
Vamos a um exemplo simples, peguemos como referencia o quadro “O Nascimento de Vênus”, de Botticelli, concebida em período Renascentista. Conseguimos discernir claramente as figuras nele presentes - no sentido que são figura humanas - mas podemos saber ou não, quem são essas figuras, o que elas representam na obra - e ainda fora dela-, e o que essa obra quer dizer. É claro que, ao olhar para essa obra temos com ela uma troca de experiência, mas todos esses quesitos citados anteriormente já estão pré definidos, a imagem é uma representação de signos pré-existentes, signos esses que podem ser interpretados por alguns grupos e jamais imaginado por outros.
 
A arte moderna, pós e contemporânea, porém, traz consigo uma abstração,  permite a qualquer um construir sobre aquilo que vê: nela os signos não pré existem, mas passam a existir a partir da visão e interpretação do espectador. É democrática, porque a partir do momento que não é necessariamente uma tentativa de reproduzir a realidade, desconstroe o ''certo'', a ''razão'', e pode ser reconstruída por cada um, passando assim, a fazer sentido para todos.
 
Podemos assim entender que a Arte ''do nosso tempo'' é um convite a ressignificar. Ela admite certo afastamento do referencial de beleza e a construção de um novo significado a partir da experiência do próprio espectador. Permite ainda, a vivencia de experiências com ''abstrações materializadas'',  que não seriam possíveis sem sua existência.
 
Poderíamos aqui, após toda essa discussão, entender Arte como composição intelectual concebida materialmente como obra, que, leva o seu espectador através da experiência , ao plano intelectual. Por conseguinte, atribuímos a arte moderna, pós moderna e contemporânea todos os designos dessa preposição,  podendo sem dúvida, considera-las uma forma legitima de arte.