domingo, 22 de maio de 2011

Revelação

Podia-se ver na varanda daquela casa, sentado em uma cadeira de balanço, Erick Cabral, carregava um olhar assustado como se não acreditasse no que acabara de vivenciar. Recordava dos velhos tempos, era um lindo rapaz, de todos o mais belo. Andava sempre com um sorriso no rosto, como se tivesse acabado de sair do dentista e quisesse expor o resultado de tanta vaidade. Chamava muita atenção, era o mais conhecido do colégio. Afinal, namorava todas, inclusive a irmã de Aurélio, seu amigo de farra, que nunca hesitara em dizer: "_Continue assim! Aproveite enquanto não aparece uma que te bote a coleira!". E o agitado Erick sempre respondia: "_Capaz, Capaz!”.

Passados alguns meses resolveu questionar seu "capaz". Viu-se completamente apaixonado por Diana, uma garota que acabara de conhecer. Ninguém nunca havia lhe chamado tanta atenção. Tentava renegar seus próprios sentimentos, mas parecia impossível. Sempre lhe vinha à cabeça a imagem da bela jovem. O rosto alvo e delicado, os cabelos sedosos caídos sobre os olhos, as mãos finas, achava que ela era desenhada. Era feminina e doce, tinha uma pequena cicatriz no pescoço, motivo pelo qual sempre discutia com Aurélio: "_Poxa Aurélio, é só uma cicatriz. Confesso que isso só me faz acha-la ainda mais...". E Aurélio o interrompia, já que não aguentava mais ouvir o amigo falar de Diana.

Erick sempre negava que pudesse estar apaixonado: "_É só um momento, vai passar!". Aurélio retrucava: "_Mas você nunca esteve assim. Nem pela Maria de Lurdes, a Clarice, Antônia, Bianca ou Madalena!". Passavam horas, dias, semanas e Cabral não esquecia da doçura de sua amada. Até que o sentimento o venceu e ele decidiu convidá-la para um jantar romântico. A doce Diana apenas acenou com a cabeça positivamente, deixando estampado um sorriso sincero.

Finalmente chegou o grande dia. Erick sentiu-se tão ansioso que mal conseguia suportar o frio na barriga. Até parecia que aquele era seu primeiro encontro, se bem que com uma moça como Diana era sim, seu primeiro encontro. Tomou o banho mais bem tomado de sua vida, primeiro de água, depois de perfume. Vestiu sua melhor roupa, encheu os cabelos negros de gel. Pegou as chaves do carro, colheu as flores que havia comprado. Ligou o carro, o coração ainda mais acelerado, as mãos suavam enquanto atravessava as quatro quadras que o separavam de seu destino. Parou o carro, buzinou, buzinou novamente. Naquele instante percebeu que estava mesmo apaixonado por Diana. A viu descendo as escadas, correu com as flores e brilhos nos olhos, lhe deu um beijo no rosto, cada vez mais admirado com sua beleza. Abriu a porta do carro, ela, com a voz trêmula agradeceu: "Obrigado!". Erick deu partida no carro e seguiu para o melhor restaurante da cidade.

Ele não acreditava que estava com a mulher de sua vida, quando foi surpreendido por uma luz vermelha logo a frente: eram policiais dando busca. Um pouco receoso parou o carro, abriu a janela e perguntou ao policial se havia algum problema. Percebeu que Diana estava aflita. O sorriso simpático da moça havia dado lugar a uma expressão de pavor. O policial pediu as identidades. Erick rapidamente bateu as mãos sobre os bolsos, retirou sua identidade e a entregou para o policial, Diana parecia buscar em sua bolsa e não encontrar nada ali.

Os policiais a chamaram, Erick a acompanhou enquanto a pediam licença para revistar sua bolsa. Olharam e todos os bolsos, até que finalmente a acharam. Assustados os policiais olharam para imagem e para a mocinha. Erick observava tudo muito preocupado, quando ouviu: "_Senhor Ramom Brandão, está liberado". Confuso viu sua amada carregando a carteira de identidade de um homem. Foi quando se deu conta que a menina de seus olhos, na verdade era um menino. Pensativo, apenas a olhou, sem clima para um jantar voltaram para casa. Erick sentou em sua cadeira de balanço e ali ficou parado.

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