domingo, 22 de maio de 2011

Retrocesso

Baixa, cabelos curtos e voz fina, era assim que todos conheciam Alice. Morava sozinha no terceiro andar do Edifício Malta. Pouco se sabia sobre ela, vivia só e só se preocupava com o próprio nariz. Sempre maquiada, não descia do salto nem em suas caminhadas à beira da lagoa. Sempre andava com pessoas mais novas. Era esnobe, arrogante, não tinha que soubesse a sua idade. Já que a perua sempre escondia isso de Deus e do mundo.

O tempo passava, e cada vez mais a distancia real e a idade que Alice dizia ter era maior. Quando Adriano, seu namorado 30 anos mais jovem, lhe perguntava sua idade, ela o xingava assim como sempre fizera a qualquer um que quisesse saber o ano de seu nascimento. No entanto o tempo passava e com ele, sua juventude. As rugas e suas mãos não a deixavam mentir.

Da sacada do prédio ficava observando os carros lá em baixo, enquanto isso recordava os velhos tempos. Lembrava-se como se fosse hoje do tempo em que tinha 5 anos. Seus pais lhe deram um irmãozinho, a partir de então ela voltou a chupar bico e mais tarde, a engatinhar, imitando-o. Sempre dizia ter 3 anos, comportando-se como tal e só brincava com crianças menores. Aos 17, odiava o passar do tempo, vestia como uma menina de 12 e dessa maneira agia. Seus pais preocupados, sempre a levavam ao psicólogo temendo problemas maiores, mas ela continuou assim.

Numa sexta feira, Adriano chegou à casa de Alice, bateu na porta e ninguém atendeu. Bateu novamente e nada. Ouviu alguns ruídos, sabia que ela estava lá. Preocupado resolveu arrombar a porta. Um empurrão, dois empurrões e de longe se pode ouvir a porta cair ao chão. Dentro da casa dirigiu-se ao quarto, de onde vinham os ruídos. Tudo estava bagunçado, as roupas espalhadas sob o chão e as malas sob a cama. Alice, com o olhar pesado e com mãos tremulas, caminhava rapidamente do guarda-roupa às malas.

_Alice, algum problema?__ perguntava Adriano assustado.

Ela, com os olhos vermelhos respondia enquanto fechava as malas:

_Todos! Não podemos continuar juntos. Nossa diferença de idade é grande demais!

_Mas eu nunca me importei por você ser mais velha! _Respondia Adriano engasgado.

Nesse momento Alice o olhou fixamente, deixado as malas caírem de suas mãos.

_ Eu? Mais velha? É você que é velho demais para mim!


Pegou as malas do chão, deu três passos para trás ainda olhando fixamente Adriano, se virou, começou a correr sem rumo. Seus pés, pareciam não tocar o chão... Enquanto isso Adriano observava aquela mulher, com roupas negras, se afastando cada vez mais, até desaparecer no horizonte.

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