quinta-feira, 21 de maio de 2015

Arte moderna e contemporânea: Ce ne est pas une œuvre d'art



Desde a era moderna, percorrendo a pós moderna e a contemporânea, houve uma grande expansão do viés artístico, que pode ser observado principalmente nas galerias, através da invasão de obras que, diferente das de períodos anteriores, pareciam não querer criar correspondência com o ''mundo real''.
 
Essa abstração proposta na arte moderna, pós moderna e contemporânea suscitou porém uma espécie de aversão à ela própria, por parte de alguns espectadores. Essa aversão por sua vez, leva à uma certa dificuldade em aceitar essas obras como arte.
 
Antes de continuarmos essa discussão, é importante trabalharmos dois conceitos que irão alicerçar a argumentação: Arte e Estética.
 
Definir o termo ''arte'', pode tornar-se algo complexo a medida que muitos  já o tentaram fazer e o de fato fizeram das formas mais variadas. Entretanto, a maioria dos conceitos criados para o termo, passam por um lugar comum, a busca pela estética - utilizada aqui como sinônimo de beleza. E assim, dentro dessas definições, a arte é vista como apologia a beleza e inclui essa como critério indispensável e eliminatório.
 
Roger Scruton, filósofo inglês nascido em 1944, confirma esse pressuposto e afirma ainda que, a arte vinda após a era moderna, deixa a busca pela beleza - que segundo ele é inerente à própria vida humana - para tornar-se culto à feiura, tendo como objetivo principal a busca pela originalidade.
 
Acontece porém, que o padrão estético é uma concepção relativa, variando conforme tempos, culturas, sociedades e ainda, conforme cada individuo. Sendo assim, a beleza não só se manifesta de formas diversas, como também é percebida de formas diversas. E é justamente essa diversidade que permite uma despadronização, uma abstração que é própria da arte vinda do período moderno até os dias atuais.
 
Essa é a Arte de reconfiguração e de construção de novos significados e signos a partir da experiência tirada da relação entre artista, obra e espectador.
 
Scruton, faz uma forte crítica ao desprezo da razão nessa obras. Isso porque ele afirma que estas parecem não ''querer fazer sentido''. Porem, se atentarmos para essa questão em especial, iremos perceber que muitas vezes obras de outros períodos, fazem sentido para determinado grupo, mas não o fazem para outro.
 
Vamos a um exemplo simples, peguemos como referencia o quadro “O Nascimento de Vênus”, de Botticelli, concebida em período Renascentista. Conseguimos discernir claramente as figuras nele presentes - no sentido que são figura humanas - mas podemos saber ou não, quem são essas figuras, o que elas representam na obra - e ainda fora dela-, e o que essa obra quer dizer. É claro que, ao olhar para essa obra temos com ela uma troca de experiência, mas todos esses quesitos citados anteriormente já estão pré definidos, a imagem é uma representação de signos pré-existentes, signos esses que podem ser interpretados por alguns grupos e jamais imaginado por outros.
 
A arte moderna, pós e contemporânea, porém, traz consigo uma abstração,  permite a qualquer um construir sobre aquilo que vê: nela os signos não pré existem, mas passam a existir a partir da visão e interpretação do espectador. É democrática, porque a partir do momento que não é necessariamente uma tentativa de reproduzir a realidade, desconstroe o ''certo'', a ''razão'', e pode ser reconstruída por cada um, passando assim, a fazer sentido para todos.
 
Podemos assim entender que a Arte ''do nosso tempo'' é um convite a ressignificar. Ela admite certo afastamento do referencial de beleza e a construção de um novo significado a partir da experiência do próprio espectador. Permite ainda, a vivencia de experiências com ''abstrações materializadas'',  que não seriam possíveis sem sua existência.
 
Poderíamos aqui, após toda essa discussão, entender Arte como composição intelectual concebida materialmente como obra, que, leva o seu espectador através da experiência , ao plano intelectual. Por conseguinte, atribuímos a arte moderna, pós moderna e contemporânea todos os designos dessa preposição,  podendo sem dúvida, considera-las uma forma legitima de arte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário